domingo, 17 de outubro de 2010

Buscando a verdade

A verdade como ato de liberdade, a verdade como atitude imaculada de enganos e percepções falhas, a verdade como algo universal e necessário, a verdade como conhecimento completo da essência real e profunda dos seres. Concepções distintas de um mesmo conceito. Intuímos que enquanto as opiniões variam de lugar para lugar, de época para época, de sociedade para sociedade, de pessoa para pessoa, a verdade estará escondida em algum recanto desconhecido e ainda inacessível, esperando que a encontremos, intacta e imutável, conhecimento eterno que acreditamos que invariavelmente será posse do intelecto humano.

Essa forma de enxergarmos a realidade nos é legada por um longo processo de construção da identidade humana, na qual o homem se comporta como o ápice da escala evolutiva ou como uma criatura criada à imagem e semelhança de seu criador, procurando em ambas as situações justificar a realidade como algo submisso a nossa vontade, como algo passível de ser entendido, compreendido e modificado pelo ser humano. Essas práticas só são possíveis porque acreditamos que o mundo existe da forma como os nossos sentidos o interpretam, que o mundo é tal como o percebemos e tal como nos ensinaram que ele é. Acreditamos que pode ser modificado ou conservado por nós; que é explicado pelas religiões e pelas ciências e que é representado pelas artes. Acreditamos que somos racionais, pois graças à linguagem, trocamos idéias e opiniões, sendo que a educação e os meios de comunicação garantem a conformidade de pensamentos muito semelhantes entre si.

É com essa visão restrita e limitada que buscamos a verdade. Esquecemos que os homens não evitam tanto ser enganados, evitando apenas serem prejudicados por esse engano. É num sentido semelhante e menos amplo que buscamos a verdade: ambicionamos as agradáveis conseqüências da verdade que conservam a vida; sendo indiferentes ao conhecimento puro, sem conseqüências, sentenciando até mesmo de modo hostil ás verdades talvez prejudiciais e hostis a nós.

Quantos filósofos, quantos juristas, quantos críticos, quantos descrentes, quantos céticos, quantos pensadores, quantos gênios nós não nos levantamos contra por propagarem e divulgarem verdades inconvenientes? Quantos dogmas, quantos preconceitos, quantas idéias preconcebidas aceitamos apenas para nos proteger das novidades, do inesperado, do desconhecido e de tudo que possa desequilibrar as nossas crenças e opiniões já constituídas? Até quando aceitaremos essas idéias que restringem o enorme potencial criativo e inovador do ser humano? Até quando nos vergaremos aos velhos dogmas e ao conservadorismo retrógado e elitista que nos impendem de novas descobertas, de novos pensamentos, de novos costumes, de novas idéias, apenas porque essas novas atitudes põem em perigo o já sabido, o já dito e o já feito? Até quando nossa espécie aceitará essa posição humilhante e tão contrária a sua natureza?

(Edson de Sousa)

Um comentário:

  1. Verdades. Verdades. Verdades.
    O texto me remete a uma música do Violins, chamada Epimeteu, que aprecio muito:

    "Eu venho ate vocês como alguém
    Que respeita quem tem
    Crença firme em outro mundo
    É justa pretensão de quem vem
    Me dizer que no além
    Há resposta pra tudo
    Não negue o mundo que esta aqui

    E nenhuma dessas regras são respostas

    Não é preciso mandamento
    Espirito ou convento, respeite o momento
    Você não tem que dar sentido pra nada
    A vida é isso mesmo
    Que você encontra tempo
    Dos dias e do tempo
    Dos risco e dos ventos
    Que não tem sentido exato"

    Por um momento me lembrou muito Däniken. E como os professores de história (kkkkk) esnobam interpretações diferentes daquelas consolidadas e talvez equivocadas, nas quais o anacronismo prevalece e a realidade é obscurecida.

    As leis que regram a vida são muito mais fantásticas do que a ciência, a religião ou a filosofia podem entender.
    Para toda regra há uma exceção.
    Será que para toda verdade também há?
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    Mais uma vez, um texto incrível.

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