sexta-feira, 25 de março de 2011

O Pescador de pérolas

Cansado de ser o trovador solitário de um mundo de ilusões desfeitas e sonhos abandonados, o homem, buscou nas palavras o seu refúgio. Cansado da amargura dos dias todos iguais, buscou nos sonhos inspiração para seus devaneios. Desceu até o inferno, e nos mostrou a beleza da vida. Visitou o Jardim do Éden, e nos seus versos revelou a perfeição da concepção divina. Lutou contra gigantes, apenas para nos mostrar que a ambição e a maldade podem ser combatidas. Viveu entre os mais carentes, para nos ensinar que as mais lindas pérolas são dragadas do lodo do fundo do mar. Caminhou por todas as nações, compreendendo ricos e pobres, peregrinando por religiões e costumes as mais diversas. Trabalhou ao lado de muçulmanos e cristãos, judeus e pagãos, agnósticos e ateus. Percebeu que ao entardecer, todos sentiam a mesma fome e o mesmo cansaço. Foi talvez o primeiro a perceber que a felicidade é o fim de todos os povos, de todos os credos, de todas as culturas. 

Cultivou a terra ao lado do camponês, para entender que a sua função é semear idéias. Idéias que espalhadas pelo vento itinerante, frutificarão em um mundo, que do canto do poeta surgirá ainda mais belo. Construiu a Arca de Noé, para nos mostrar que acreditar no impossível tem a incomparável capacidade de salvar a humanidade do afogamento iminente em seus próprios vícios. Viveu amores platônicos, e se machucou. Do sofrimento, fez monumento em palavras. Das lágrimas fez esculturas em diamante.                                               
Sons, ritmos, significados, todos unidos e multiplicados. Amplificados pela habilidade do homem que ainda possui a audácia de construir paraísos distantes. Mostrou que “não existe impossível, apenas impossibilitados”. Dissecou personalidades, com a indulgência de quem entende a “diferença, a sutil diferença, entre dar a mão e acorrentar a alma”. Analisou os sentimentos humanos com a riqueza de detalhes de quem observa a um espetáculo assistido de cima. Enquanto houver uma batalha a ser travada, uma injustiça a ser repelida, o poeta ainda terá um motivo pelo qual viver, mesmo que apenas na voz de seus personagens. Enquanto suas mensagens ecoarem no coração das pessoas, a chama exuberante de sua vida permanecerá sempre acessa.            
Como pode então ser entendido o homem, se dividido em dois extremos intangíveis. Em uma parcela do infinito o homem que ama. Na outra, o espectro de quem sofre. Homem, sinfonia do absurdo. Pode alguém além do poeta, além da inspiração incerta, entender um ser tão contraditório quanto homem?

(Edson de Sousa)

Chispas Literárias

Motivo

Eu canto porque o instante existe   
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.



Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.

Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
- não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.

Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
- mais nada.

                                                                               (Cecília Meireles)



quarta-feira, 9 de março de 2011

Guerra Civil


A reflexão da semana vem da música ''Civil War'', do conjunto Guns n' Roses. Será que ela disse alguma coisa à geração dos anos 80? Será que ela ainda tem algo a nos dizer?

Civil War

"What we've got here is failure to communicate
Some men you just can't reach
So you get what we had here last week
Which is the way he wants it, well, he gets it
I don't like it any more than you men"

Look at your young men fighting
Look at your women crying
Look at your young men dying
The way they've always done before

Look at the hate we're breeding
Look at the fear we're feeding
Look at the lives we're leading
The way we've always done before

My hands are tied
The billions shift from side to side
And the wars go on with brainwashed pride
For the love of God and our human rights

And all these things are swept aside
By bloody hands time can't deny
And are washed away by your genocide
And history hides the lies of our civil wars

Did you wear a black armband
When they shot the man
Who said, peace could last forever
And in my first memories
They shot Kennedy
I went numb when I learned to see

So I never fell for Vietnam
We got the wall of D.C. to remind us all
That you can't trust freedom
When it's not in your hands
When everybody's fighting
For their promised land

And I don't need your civil war
It feeds the rich while it buries the poor
You're power hungry selling soldiers
In a human grocery store, ain't that fresh
I don't need your civil war

Look at the shoes you're filling
Look at the blood we're spilling
Look at the world we're killing
The way we've always done before

Look in the doubt we've wallowed
Look at the leaders we've followed
Look at the lies we've swallowed
And I don't want to hear no more

My hands are tied
For all I've seen has changed my mind
But still the wars go on as the years go by
With no love of God or human rights

Cause all these dreams are swept aside
By bloody hands of the hypnotized
Who carry the cross of homicide
And history bears the scars of our civil wars

"We practice selective annihilation
Of mayors and government officials
For example to create a vacuum then we fill that vacuum
As popular war advances, peace is closer"

I don't need your civil war
It feeds the rich while it buries the poor
You're power hungry selling soldiers
In a human grocery store, ain't that fresh
And I don't need your civil war

I don't need your civil war
I don't need your civil war
I don't need your civil war
You're power hungry selling soldiers
In a human grocery store, ain't that fresh
I don't need your civil war
I don't need one more war

I don't need one more war
Whaz so civil bout war anyway


Guerra Civil
'O que temos aqui é falha para comunicar.
Alguns homens você simplesmente não pode confiar
Então você tem o que tivemos aqui semana passada
Que é a maneira como ele quer, bem, ele consegue
E eu não gosto disso tanto quanto vocês homens.'

Veja seu jovem lutando
Veja sua mulher chorando
Veja seu jovem morrendo
Da maneira que sempre foi antes

Veja o ódio que estamos criando
Veja o medo que estamos alimentando
Veja as vidas que estamos perdendo
Da maneira que sempre foi antes

Minhas mãos estão presas
Os bilhões passam de um lado para outro
E a guerra continua com orgulho de mentes lavadas
Pelo amor de Deus e por nossos direitos humanos

E todas essas coisas são deixadas de lado
Por mãos sangrentas que o tempo não perdoará
E que são lavadas pelo seu genocídio
E a história esconde as mentiras de nossas guerras civis

Você vestiu uma braçadeira preta
Quando atiraram no homem
que disse 'A paz pode durar para sempre'
E nas minhas primeiras memórias
Eles atiraram em Kennedy
Eu fiquei anestesiado quando aprendi a ver

Então eu nunca senti pelo Vietnã
Temos as paredes de Washington para nos lembrar
Que você não pode acreditar na liberdade
Quando não está em suas mãos
Quando todo mundo está lutando
Por sua terra prometida

E eu não preciso de sua guerra civil
Ela alimenta os ricos enquanto enterra os pobres
Sua fome de poder vendendo soldados
Em um armazém humano, não é uma graça?
Eu não preciso de sua guerra civil

Olhe os sapatos que você calça
Veja o sangue que fazemos jorrar
Veja o mundo que estamos matando
Da maneira que sempre foi antes

Veja a dúvida que temos engolido
Veja os líderes que temos seguido
Veja as mentiras que temos engolido
E eu não quero mais ouvir

Minhas mãos estão atadas
Por tudo que vi mudei meus pensamentos
Mas a guerra continua à medida que os anos passam
Sem amor à Deus ou direitos humanos

Porque todos estes sonhos são deixados de lado
Por mãos sangrentas dos hipnotizados
Que carregam a cruz do homicídio
E a história carrega as feridas de nossas guerras civis

"Nós fazemos aniquilação seletiva de
prefeitos e oficiais de governo
por exemplo, para criar um vazio depois preenchemos o vazio
enquanto a guerra popular segue, a paz está perto"

Eu não preciso da sua guerra civil
Ela alimenta os ricos enquanto enterra os pobres
Sua fome de poder vendendo soldados
Numa loja de mercearia humana, isso não está fresco
E eu não preciso de sua guerra civil

Eu não preciso de sua guerra civil
Eu não preciso de sua guerra civil
Eu não preciso de sua guerra civil
Sua fome de poder vendendo soldados
Em um armazém humano, não é uma graça?
Eu não preciso de sua guerra civil
Eu não preciso de mais uma guerra

Eu não preciso de mais uma guerra
O que há de civil numa guerra de qualquer maneira

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

PAISAGEM EMOLDURADA, de Edson de Sousa

Às vezes ao olhar pela janela não sei bem definir se o que vejo é de fato a paisagem. Vejo contradições entre os homens. Desenvolvimento infinito e progresso ilimitado moldam um pensamento contemporâneo insustentável. Seus sentimentos são fúteis e transitórios. Seu conhecimento limitado às esferas práticas da vida, superficiais e intolerantes. Sinto que por debaixo de toda a vida contemporânea existe uma injustiça latente. O explorado se alegra ao perceber que os grilhões que o enclausuram reluzem como ouro. Impudica situação em que os exploradores já não temem que uma plebe alienada se revolte. As lutas camponesas, as greves gerais, o feminismo e seus sutiãs queimados, a contra-cultura e as drogas alucinógenas, os movimentos hippie e punk, o rock como alternativa ao conservadorismo hipócrita. As grandes manifestações estudantis, os caras-pintadas, a guerrilha escalpelada pela ditadura, a MPB raivosa e cedenta de um novo país. O PCB, a intentona comunista, o modernismo heróico e sua irreverência, os anarco-sindicalistas, os pasquins censurados, os grandes festivais, os hinos à liberdade de expressão e as utopias que movimentaram uma nação empobrecida pela exploração e pela desigualdade. Esse sentimento apesar de muito próximo de nós, já faz parte do passado. Parece-me que estagnamos a roda da fortuna, como se ainda não existissem trilhas íngremes a serem trespassadas. A cada momento que não nos atiramos ao clamor da batalha, às utopias suicidas estamos negando um legado que nos foi entregue pelas mãos sôfregas de nossos antepassados.
Necessitamos reaver um certo espírito de contestação, de enfrentamento diante da ordem vigente, de caráter radical e estranho às forças mais tradicionais. Devemos sim combater a globalização predatória, a privatização de nossos recursos naturais, preservar a soberania dos povos e erradicar primordialmente a pobreza extrema. Assegurar saúde, educação, moradia, saneamento básico e segurança de qualidade e sem distinções. Liberdade de acesso à informação, igualdade de condições entre as diversas classes sociais, a livre expressão de pensamento político, artístico e científico. Construir estradas e portos, universidades e hospitais, creches e asilos. Um governo do povo, para o povo e pelo povo. Devemos sim respeitar idéias divergentes e sintetizá-las em uma forma única de compreensão em um mundo miscigenado pelo contato de arquipélagos antes isolados e distantes. Com o tempo readquirir àquele sobressalto que os gênios possuem ao perceber que somos seres vivos orbitando misteriosamente por um universo desconhecido ao redor de uma estrela cintilante. Seguramente descobriremos que na Via Láctea existe vida inteligente, versátil e criativa imersa em problemas sociais insolúveis e crises econômicas desgastantes. A vida é uma aventura alucinante da qual não sairemos vivos.
De repente, movido por uma vontade súbita e incontrolável de vislumbrar algo antes ignorado, com as mãos trêmulas e os pensamentos arrefecidos por uma tranqüilidade incomum, aproximei-me novamente da paisagem emoldurada pela janela receando que a verdade sussurrada aos nossos ouvidos nos seja incompreensível por ainda hoje continuarmos agarrados apenas às verdades que nos fazem sorrir.

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

O que é mais subversivo do que a leitura?




LER DEVIA SER PROIBIDO, de Guiomar de Grammont


A pensar fundo na questão, eu diria que ler devia ser proibido.

Afinal de contas, ler faz muito mal às pessoas: acorda os homens para realidades impossíveis, tornando-os incapazes de suportar o mundo insosso e ordinário em que vivem. A leitura induz à loucura, desloca o homem do humilde lugar que lhe fora destinado no corpo social. Não me deixam mentir os exemplos de Don Quixote e Madame Bovary. O primeiro, coitado, de tanto ler aventuras de cavalheiros que jamais existiram meteu-se pelo mundo afora, a crer-se capaz de reformar o mundo, quilha de ossos que mal sustinha a si e ao pobre Rocinante. Quanto à pobre Emma Bovary, tomou-se esposa inútil para fofocas e bordados, perdendo-se em delírios sobre bailes e amores cortesãos.

Ler realmente não faz bem. A criança que lê pode se tornar um adulto perigoso, inconformado com os problemas do mundo, induzido a crer que tudo pode ser de outra forma. Afinal de contas, a leitura desenvolve um poder incontrolável. Liberta o homem excessivamente. Sem a leitura, ele morreria feliz, ignorante dos grilhões que o encerram. Sem a leitura, ainda, estaria mais afeito à realidade quotidiana, se dedicaria ao trabalho com afinco, sem procurar enriquecê-la com cabriolas da imaginação.

Sem ler, o homem jamais saberia a extensão do prazer. Não experimentaria nunca o sumo Bem de Aristóteles: o conhecer. Mas para que conhecer se, na maior parte dos casos, o que necessita é apenas executar ordens? Se o que deve, enfim, é fazer o que dele esperam e nada mais?

Ler pode provocar o inesperado. Pode fazer com que o homem crie atalhos para caminhos que devem, necessariamente, ser longos. Ler pode gerar a invenção. Pode estimular a imaginação de forma a levar o ser humano além do que lhe é devido.

Além disso, os livros estimulam o sonho, a imaginação, a fantasia. Nos transportam a paraísos misteriosos, nos fazem enxergar unicórnios azuis e palácios de cristal. Nos fazem acreditar que a vida é mais do que um punhado de pó em movimento. Que há algo a descobrir. Há horizontes para além das montanhas, há estrelas por trás das nuvens. Estrelas jamais percebidas. É preciso desconfiar desse pendor para o absurdo que nos impede de aceitar nossas realidades cruas.

Não, não dêem mais livros às escolas. Pais, não leiam para os seus filhos, pode levá-los a desenvolver esse gosto pela aventura e pela descoberta que fez do homem um animal diferente. Antes estivesse ainda a passear de quatro patas, sem noção de progresso e civilização, mas tampouco sem conhecer guerras, destruição, violência. Professores, não contem histórias, pode estimular uma curiosidade indesejável em seres que a vida destinou para a repetição e para o trabalho duro.

Ler pode ser um problema, pode gerar seres humanos conscientes demais dos seus direitos políticos em um mundo administrado, onde ser livre não passa de uma ficção sem nenhuma verossimilhança. Seria impossível controlar e organizar a sociedade se todos os seres humanos soubessem o que desejam. Se todos se pusessem a articular bem suas demandas, a fincar sua posição no mundo, a fazer dos discursos os instrumentos de conquista de sua liberdade.
O mundo já vai por um bom caminho. Cada vez mais as pessoas lêem por razões utilitárias: para compreender formulários, contratos, bulas de remédio, projetos, manuais etc. Observem as filas, um dos pequenos cancros da civilização contemporânea. Bastaria um livro para que todos se vissem magicamente transportados para outras dimensões, menos incômodas. E esse o tapete mágico, o pó de pirlimpimpim, a máquina do tempo. Para o homem que lê, não há fronteiras, não há cortes, prisões tampouco. O que é mais subversivo do que a leitura?

É preciso compreender que ler para se enriquecer culturalmente ou para se divertir deve ser um privilégio concedido apenas a alguns, jamais àqueles que desenvolvem trabalhos práticos ou manuais. Seja em filas, em metrôs, ou no silêncio da alcova... Ler deve ser coisa rara, não para qualquer um.

Afinal de contas, a leitura é um poder, e o poder é para poucos.

Para obedecer não é preciso enxergar, o silêncio é a linguagem da submissão. Para executar ordens, a palavra é inútil.

Além disso, a leitura promove a comunicação de dores, alegrias, tantos outros sentimentos... A leitura é obscena. Expõe o íntimo, torna coletivo o individual e público, o secreto, o próprio. A leitura ameaça os indivíduos, porque os faz identificar sua história a outras histórias. Torna-os capazes de compreender e aceitar o mundo do Outro. Sim, a leitura devia ser proibida.

Ler pode tornar o homem perigosamente humano.

Guiomar de Grammon, In: PRADO, J. & CONDINI, P. (Orgs.). A formação do leitor: pontos de vista. Rio de Janeiro - Argus, 1999. pgs.71-73.



quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Fabiano Mayer toca Seis por Derecho de Antonio Lauro


Fabiano Mayer é Bacharel em Música, Pós-graduado em educação, estudou nos Estados Unidos e Europa, participou também de Festivais e Palestras em todo o Mundo. Tem como influências principais o Professor da “University of Arizona” Tom Patterson e o Violonista Carlos Barbosa Lima.
Além de Violonista Concertista, Fabiano Mayer tem se apresentado com o grupo experimental denominado “Fabiano Mayer Instrumental Acústico” Grupo esse que vem obtendo sucesso de público e critica. Tem um CD gravado em duo de violões gravado em 1998 com o parceiro Moacyr Teixeira .
Em 2006, lançou o “Livro Primeiro de Violão” e em 2007 o “Manual Prático de violão”. Seus livros têm sido adotados por professores de violão em todo o território Nacional. Atualmente dedica-se à “By Mayer Academia de Violão”, escola fundada e idealizada por Fabiano Mayer, especializada no estudo de seu instrumento.